quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

História de ADERVAL ALVES COQUEIRO -XL- - Vanderley-Revista

ADERVAL ALVES COQUEIRO (1937-1971)
 
Filiação:
Jovelina Alves Coqueiro e José Augusto Coqueiro
Data e local de nascimento:
18/07/1937, Aracatu (BA)
Organização política ou atividade:
MRT
Data e local da morte:
Aderval Alves Coqueiro foi um dos 40 presos políticos trocados pelo embaixador alemão Von Holleben, em junho de 1970. Tinha sido preso em São Paulo, em 29/05/1969, como
militante da Ala Vermelha, sendo torturado na 2ª Companhia da Polícia do Exército, depois transferido para o DOPS/SP e, finalmente, Presídio Tiradentes. Banido e enviado à Argélia,
de lá se deslocou para Cuba, regressando ao Brasil já integrado ao MRT – Movimento Revolucionário Tiradentes, grupo dissidente da Ala Vermelha.
Coqueiro morreu no Rio de Janeiro, de acordo com o laudo oficial assinado por João Guilherme Figueiredo, no dia 06/02/1971, no Cosme Velho, em conseqüência de “f
transfixante do tórax e lesão do pulmão direito”. Seu corpo foi entregue à família posteriormente, sendo enterrado no cemitério de Inhaúma no dia 14.Jornal do Brasil de 08/02/1971 referiu-se ao cerco de mais de 50 policiais e publicou uma foto de
Nascido no município baiano de Brumado, Coqueiro iniciou cedo sua militância política no PCB e foi um dos candangos que trabalhou na construção de Brasília, além de ter sido
operário da construção civil no estado de São Paulo, onde residiu desde 1961. Ao se desligar do PCB, passou a integrar o Comitê Regional do PCdoB/SP, focando suas atividades na
zona rural. Por volta de 1967/1968, desligou-se do PCdoB para integrar a Ala Vermelha. Vivendo em São Bernardo do Campo e Diadema, trabalhou também como operador de máquinas
e vendedor autônomo. Casado com Isaura, tiveram duas filhas. Coqueiro teria retornado ao Brasil em 31/01/1971, valendo-se de um esquema clandestino da VAR-Palmares, e foi morar
no apartamento do bairro Cosme Velho, onde foi morto uma semana depois. Não foi possível localizar perícia de local, fotos e nem o laudo necroscópico.
Duas matérias de jornais da época permitiram desqualificar a versão oficial. O
Coqueiro morto, alvejado pelas costas. O Jornal da Tarde, na mesma data, complementa as informações com o depoimento de um oficial que participara da operação, informando que a
localização da casa onde estava Coqueiro começara a ser feita um mês antes. Repetindo a tática já costumeira de manchar a imagem dos militantes detidos, esse agente dos órgãos de
segurança disse que a residência teria sido apontada pelo ex-deputado federal Rubens Paiva a um grupo de oficiais da PE antes de ser seqüestrado por companheiros. Tal afirmação
levantou indignação na CEMDP, pois Rubens Paiva representa um dos casos mais conhecidos de desaparecimento ocorrido no Brasil, por ser notória a brutalidade do assassinato de
um opositor político que, sabidamente, não estava engajado na resistência armada ao regime militar.
Para complementar as informações, foi possível localizar o zelador do prédio onde Coqueiro foi morto, que declarou não ter presenciado o tiroteio, pois estava no último andar do
edifício. Mas ouviu, durante a operação militar, um agente gritando: “
viu o cadáver no local, com diversas marcas de tiro.bota a arma do lado dele”. O zelador, em seu relato, não deu
Também afirmou que Coqueiro estava desarmado, vestido com apenas um calção, e que ouviu um dos agentes dizer: “
qualquer indicação de que Coqueiro teria tentado reagir.consta no Livro de
A Comissão de Familiares juntou ao processo na CEMDP fotos do corpo, cedidas pela Agência JB, e fotos atuais do prédio onde ocorreu a morte, sendo solicitada a expedição de
ofício ao IML/RJ, em mais uma tentativa de localização do laudo necroscópico. Apenas uma certidão do IML Afrânio Peixoto foi fornecida, com o seguinte teor: “
Registro de Cadáveres, às fls 03, que na data de 06/02/71, deu entrada no Serviço de Necropsias, o corpo de Aderval Alves Coqueiro, tendo sido encaminhado pelo DOPS, com a
guia de remoção s/n., com a idade de 33 anos, brasileiro, casado, profissão: datilógrafo, residência: Rua Bandeirantes 10-B, Diadema, São Paulo, tendo a morte ocorrida”.
em conseqüência de crime, sendo a causa mortis ferida transfixante do tórax – lesão do pulmão direito
O episódio teve grande repercussão na imprensa porque Aderval Alves Coqueiro foi o primeiro banido encontrado no Brasil pelos órgãos de segurança. Franquearam o acesso de
fotógrafos ao local, mas não exibiram o ocorrido para a imprensa. Salvo a presença do revólver junto ao corpo, não foi apresentada qualquer indicação precisa comprovando a alegada
resistência a tiros. Na CEMDP, as fotos obtidas junto à Agência JB representaram uma prova conclusiva da falsidade da versão oficial, pois as manchas de sangue no piso sugeriam
que o corpo fora arrastado e evidenciaram que Coqueiro não fora abatido exatamente no local onde se encontrava o corpo. Tampouco o revólver poderia estar na posição em que se
via na foto. Mostraram, ainda, outras lesões não referidas nas informações do IML: nítidos sinais de ferimentos na cabeça, na nádega esquerda e na perna direita.
Após o voto favorável do relator, houve pedido de vistas ao processo. O revisor, Luís Francisco Carvalho Filho, acompanhou o voto do relator.
A CEMDP concluiu que Coqueiro não morreu conforme a versão oficial.
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Biografia
Militante do MOVIMENTO REVOLUCIONÁRIO TIRADENTES (MRT).
Nasceu, em 18 de julho de 1937, em Aracatu, BA, filho de José Augusto Coqueiro e Jovelina Alves Coqueiro. Casado com Isaura, teve duas filhas.
De origem operária, iniciou cedo sua militância no Partido Comunista Brasileiro (PCB). Como candango participou da construção de Brasília. Desligando-se do PCB, integrou o Comitê Regional do Partido Comunista do Brasil (PC do B), centrando suas atividades na zona rural. Também participou da Ala Vermelha.
Desde 1961 vivia em São Paulo onde trabalhava como operário da construção civil.
Preso em 29 de maio de 1969, na 2ª Companhia da Polícia do Exército (PE), em São Paulo. Mais tarde, foi transferido para o DOPS/SP e torturado pelo Delegado Sérgio Fleury. Em junho de 1970, foi banido do território brasileiro, quando do seqüestro do embaixador da Alemanha no Brasil, Von Holleben, indo para a Argélia com outros 39 companheiros. De imediato, procurou reunir condições de voltar ao país para retomar a luta, sendo o primeiro banido a conseguir voltar.
Coqueiro regressou ao Brasil no dia 31 de janeiro de 1971, indo morar em um apartamento no bairro Cosme Velho, Rio de Janeiro, onde foi localizado e morto no dia 6 de fevereiro de 1971.
Segundo testemunhas, uma grande área do bairro foi cercada pelos agentes policiais, com o objetivo de evitar sua fuga. Assim que os policiais do DOI-CODI/RJ invadiram o apartamento, começaram a atirar. Coqueiro tentou fugir, mas foi abatido pelas costas, no pátio interno do prédio.
Jornais da época noticiaram como sendo mais uma morte em violento tiroteio. Algumas revistas publicaram fotos onde Coqueiro jazia no chão, estando cerca de 30 cm de sua mão estendida um revólver, que ele não chegou a portar. Mais uma farsa dos agentes da repressão para encobrir um frio assassinato.
Seu corpo entrou no IML com guia s/n. do DOPS. O óbito foi firmado pelo Dr. João Guilherme Figueiredo e teve como declarante Reinaldo da Fonseca Mota e foi entregue à sua família, que o sepultou no Cemitério de Inhaúma (RJ), em 14 de fevereiro de 1971.
Com o intuito de restabelecer a verdade, 25 anos depois a Comissão de Familiares voltou ao prédio onde ocorreu a execução de Aderval e ouviu a versão de Francisco Soares, antigo zelador do prédio, a qual reproduzimos abaixo:
"(...) nesse mesmo dia, após algumas horas, cheguei à janela e vi que o prédio estava cercado por uma centena de policiais civis e a Polícia do Exército, logo depois, o prédio foi invadido por vários homens armados, e foram direto para o apartamento 202. Nesse momento, um oficial mandou que eu saísse da janela. Posteriormente, escutei um militar gritar 'atira e mata'. Logo depois escutei uma grande gritaria nos fundos do prédio e vários disparos de armas, que durou somente alguns segundos. Escutei uma pessoa falar 'temos presunto fresco'.
(...) quando eu cheguei nos fundos, onde encontra-se a piscina, vi o rapaz do apartamento 202 estirado no chão, perguntaram se eu o conhecia, disse que era a pessoa que estava limpando o apartamento 202, me responderam que ele era um perigoso subversivo chamado 'Baiano Coqueiro'. Observei várias marcas de tiros, não sabendo dizer quantas, estando ele somente de calção, sem camisa e desarmado. Também ouvi o policial dizer 'bota a arma do lado dele' ..."
Nas pesquisas feitas no IML não foram encontrados laudo de necrópsia, nem laudos e fotos de perícia local no Instituto de Criminalística do Estado (ICE/RJ), apesar da existência das fotos fornecidas, à época, para imprensa. Posteriormente, foi encontrado o laudo médico no arquivo do DOPS/SP.
atira e mata”. O zelador contou ainda que foi chamado pelos policiais para prestar informações sobre a vítima e
06/02/1971, no Rio de Janeiroerida



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quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

História de THOMAZ ANTÔNIO DA SILVA MEIRELLES NETTO -XXXV-- Vanderley_Revista

 Thomaz Antônio da Silva Meirelles Neto
Thomaz Meirelles Neto nasceu em 1937, em Parintins, no Amazonas. Aos 21 anos, veio para o Rio onde participou, pela UBES e UNE, da direção e da organização das manifestações culturais e políticas dos estudantes. Simultaneamente à sua atividade de jornalista, participou do Centro Popular de Cultura, o CPC da UNE, ocasião em que travou contato com a pobreza e a miséria do povo brasileiro - dos alagados do Recife às minas de carvão de Santa Catarina.

No comêço da militância, une-se ao PCB. Mais tarde, abraçou a causa da ALN.

Por falta de recursos para estudar, Thomaz solicitou bolsa para completar sua formação universitária na antiga União Soviética e foi para Moscou, em 1962, onde cursou a Faculdade de Filosofia. Em 1969, regressou ao Brasil.

Aos poucos meses da chegada, foi ele obrigado a agir em total clandestinidade. Thomaz nunca pôde ter nos braços seu filho, nascido em 1967. Em 1970, foi preso e torturado. Liberado três anos depois, retorna à luta clandestina.

Durante esse último período, sua família foi perseguida, culminando com a prisão de Miriam Marreiros Meirelles, sua mulher, que também foi torturada para informar o paradeiro do marido.

Thomaz foi novamente preso no dia 7 de maio de 1974, no Leblon, e nunca mais foi visto. Seu nome consta da lista de pessoas desaparecidas, tendo sua morte sido reconhecida em declarações de um agente da repressão. O livro "Brasil Nunca Mais " retrata a primeira prisão de Thomaz, em 1972, e o julgamento que o condenou a três ano e meio como caso ilustrativo do funcionamento tragicômico da Justiça Militar naquele período. Diz a acusação: "Nove anos passados na União Soviética servem de prova da intenção de delinqüir " ...

No dizer de um amigo, Thomaz era fascinante. Combatente dos mais procurados pela ditadura, era a antítese da figura geralmente associada ao guerrilheiro. Thomaz gostava de si mesmo e se tratava bem. E era bonito, sabendo cultivar seu encanto pessoal. De interesse diverso, não era ele um fundamentalista dos que se encaramujam na ação estritamente política. Apreciava a obra dos escritores existencialistas e o chamado teatro do absurdo. Espírito aberto, crítico, inquieto, rara combinação de radicalismo e tolerância.

À Thomaz, senhor de seus dias, a nossa homenagem e admiração.


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THOMAZ ANTÔNIO DA SILVA MEIRELLES NETTO (1937 - 1974)

Filiação: Togo Meirelles e Maria Garcia Meirelles

Data e local de nascimento: 01/07/1937, em Parintins (AM)

Organização política ou atividade: ALN

Data e local do desaparecimento: 07/05/1974, no Rio de Janeiro

Jornalista e sociólogo, dirigente da ALN, o amazonense Thomaz Meirelles desapareceu em 07/05/1974, no Rio de Janeiro. Natural de

Parintins (AM), chegou ao Rio de Janeiro em 1958, onde teve início seu engajamento político, participando do movimento secundarista

através da UBES e, depois de iniciar a universidade, através da UNE. Em 1961, atuou abertamente na resistência em defesa da legalidade

constitucional, contra a tentativa de golpe militar que se seguiu à renúncia do presidente Jânio Quadros.

Paralelamente à sua atividade profissional como jornalista, contribuiu na organização de inúmeras manifestações culturais e políticas no

final dos anos 50 e início dos anos 60, por meio do Comitê Popular de Cultura da UNE. Sua militância partidária começou no PCB, tendo

depois ingressado na ALN. Casado com a jornalista Miriam Marreiro, teve com ela dois filhos, Larissa e Togo.

Cumprindo todos os trâmites legais em relação a um país com o qual o Brasil mantinha relações diplomáticas normais, Thomaz Meirelles

solicitou uma bolsa de estudos para continuar sua formação universitária e seguiu para a União Soviética, em 1962, onde cursou Filosofia

na Universidade Central de Moscou.

Retornou ao Brasil em 13/11/1969, já na polarizada conjuntura repressiva do início do governo Médici. Poucos meses depois, foi obrigado a

viver na clandestinidade. Preso pela primeira vez em 18/12/1970, quando transitava na Rua da Alfândega (Rio de Janeiro), foi levado para

o DOI-CODI e lá sofreu a violência das torturas. Posteriormente, foi condenado a três anos e seis meses de prisão. Cumpriu condenação por

suas atividades políticas na ALN, existindo em seu processo judicial forte carga contra o fato de ter estudado na União Soviética. Libertado

em 17/11/1972, mais uma vez foi obrigado a refugiar-se na clandestinidade. Thomaz Meirelles foi preso pela última vez em 07/05/1974,

no bairro do Leblon, Rio de Janeiro, e a partir dessa data nunca mais visto. Após o seu desaparecimento, foi julgado à revelia, em São Paulo,

pela 2ª Auditoria Militar, sendo condenado à pena de dois anos de reclusão.

O nome de Thomaz consta da lista de pessoas consideradas desaparecidas e assumidas como mortas por um general responsável pelo

aparelho repressivo, em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, em 28/01/1979. Notícia veiculada pelo Correio da Manhã do Rio de Janeiro,

de 03/08/1979, afirma que 14 desaparecidos políticos foram mortos pelos serviços secretos das Forças Armadas e dentre eles está o nome

de Thomaz. A reportagem da Folha de S. Paulo ouviu de dois generais e de um coronel essa informação. Em 15/04/1987, a revista IstoÉ, na

reportagem Longe do Ponto Final, publicou declarações do ex-médico militar Amílcar Lobo de que havia visto Thomaz no DOI-CODI no Rio

de Janeiro, sem precisar a data.

O chamado "livro negro sobre o terrorismo no Brasil", produzido pelo CIE entre 1986 e 1988, num trecho delirante que depõe contra a

credibilidade e seriedade do documento, registra que, em junho de 1966 "o Comitê Central do PCB realizou uma reunião, na qual criou

uma Seção de Trabalhos Especiais que, entre outras atribuições, tinha o encargo principal de preparar o Partido para a luta armada. No mês

seguinte, enviou 10 militantes para realizarem um curso de guerrilha em Moscou", sendo que o nome de Thomaz Meirelles é incluído entre

esses 10. Daí a necessidade de tratar com muita reserva a informação incluída na página 776 desse controvertido documento secreto, de

que Meirelles teria executado, em junho de 1973, um militante da RAN que tinha sido preso e ajudou os órgãos de segurança a montar a

emboscada em que foi morto Merival Araújo, da ALN. Vale a mesma ressalva a respeito da acusação, incluída em documentos dos órgãos

de segurança, de que Thomaz teria participado da execução do delegado Octavio Gonçalves Moreira Junior, do DOI-CODI/SP e do CCC, em

Copacabana, em fevereiro de 1973.

Nos arquivos secretos do DOPS/SP foi descoberto um documento onde consta que Thomaz foi "novamente preso em 07/05/1974, quando

viajava do Rio de Janeiro para São Paulo". O Relatório do Ministério da Marinha, assinado pelo Ministro Ivan Serpa, relata: "DEZ/72, preso

anteriormente e liberado na primeira semana de dez/72, preso novamente no dia 07/mai/74, entre o Rio de Janeiro para São Paulo". O nome

de Thomaz Antônio da Silva Meirelles Netto integra a lista de desaparecidos políticos anexa à Lei nº 9.140/95.

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CARLOS ALBERTO SOARES DE FREITAS - Vanderley-Revista

C
ARLOS ALBERTO SOARES DE FREITAS
Dirigente da VANGUARDA ARMADA REVOLUCIONÁRIA PALMARES (VARPALMARES).
Nasceu em Belo Horizonte, em 12 de agosto de 1939, filho de Jayme Martins de Freitas e Alice Soares de Freitas.
Desaparecido desde 1971, aos 32 anos.
Caçula de oito irmãos, Beto era um homem reservado e discreto, solteiro, de uma insuspeitada timidez, o que Ihe conferia um certo charme, sempre despertando
paixões.
Corpo atlético, perfeito, extremamente terno, cavalheiro, educado, arisco, jogador de basquete, prêmios de natação.
Filho amoroso, nunca deixou de se corresponder com os pais, mesmo durante a clandestinidade.
O curso primário foi feito no Colégio São Francisco e no Grupo Escolar Manoel Esteves, em Teófilo Otoni. O curso secundário, nos Colégios Anchieta e Tristão
de Ataíde, em Belo Horizonte. Ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas (FACE/UFMG) para cursar Sociologia e Política, em 1961.
Nesse mesmo ano, iniciou sua trajetória de militância política na POLOP e inscreveu-se no Partido Socialista Brasileiro (PSB), tendo se dedicado, desde o início,
inteiramente à política.
Viajou para Cuba, em janeiro de 1962, para as comemorações da Revolução Cubana.
Escolhido pelos seus companheiros da POLOP, buscava obter maiores informações sobre a Revolução Socialista.
No período de 1961 a 1965, militou no movimento estudantil e participou, também, do trabalho de implantação das Ligas Camponesas em Minas Gerais, dentro
da perspectiva política da aliança operário-camponesa-estudantil.
Logo após o golpe militar de 1964, recebeu determinações da Direção Nacional da POLOP para que se transferisse para o Rio de Janeiro.
No entanto, dois meses depois estava de volta.
Foi preso, em flagrante, pichando muros em Belo Horizonte, no dia 26 de julho de 1964 – com palavras de ordem contra o isolamento cubano imposto pela
OEA e contra a ditadura militar – e levado para o DOPS. Posteriormente, foi transferido para a Penitenciária Agrícola de Neves e solto, em novembro do
mesmo ano, por meio de um
Beto participou, em 1965, da reorganização da seção regional do PSB, tornando-se um dos membros do Comitê Executivo do partido, além de dirigente
nacional da POLOP, em Minas Gerais.
No período de 1965 a 1968, além de outras tarefas, escreveu semanalmente, artigos para o jornal operário "
Em 1967, Beto foi julgado e condenado, à revelia, a dois anos de prisão pela Auditoria do Exército da 4ª Região Militar, em Juiz de Fora.
Em 1968 foi eleito para a Direção Nacional do COLINA e elaborou, junto com outros companheiros, documentos de análise política para discussões internas na
organização, usando o pseudônimo de Fernando Ferreira. Nesse período, foi um dos diretores da revista “
Entrou para a clandestinidade, mudando-se para o Rio de Janeiro, no mês de janeiro de 1969.
Foi preso, novamente, no dia 15 de fevereiro de 1971, junto com Antônio Joaquim Machado (também desaparecido) e Sérgio Emanuel Dias, na pensão onde
moravam na rua Farme de Amoedo, n° 135, em Ipanema. Foram levados para o quartel da PE, na rua Barão de Mesquita, onde ficavam as dependências do
DOI-CODI.
Segundo Eduardo, seu irmão, quatro dias após sua prisão, a família recebeu uma carta escrita pelo próprio Carlos Alberto, onde ele lhes comunicava que,
quando o documento chegasse ao seu destino, era sinal de que teria sido detido pelos órgãos de repressão e, em decorrência disso, todas as medidas
necessárias à sua localização deveriam ser tomadas pela família.
Foram acionados vários advogados buscando a sua localização: Sobral Pinto, Oswaldo Mendonça e Antônio Modesto da Silveira.
Habeas Corpus.Piquete".América Latina”.
Habeas-corpus
relator o ministro Nelson Sampaio.
Inúmeros apelos em caráter dramático foram enviados pelos pais e familiares de Beto às mais altas autoridades do País: Generais Médici, Geisel e Figueiredo e
ao ministro do STM, Rodrigo Otávio Jordão Ramos.
Várias buscas foram feitas na Base Aérea do Galeão – conhecido centro de tortura no ano de 1971 – na Ilha das Flores, na Vila Militar, na 4ª Região Militar, em
Juiz de Fora, e em Salvador. Foi muito procurado por pessoas conhecidas em outros Estados.
Na delegacia de Itaguaí, em junho de 71, Eduardo Soares de Freitas viu um cartaz de "terroristas procurados", exibindo a foto de Beto, riscada com um xis . Em
depoimento de Inês Etienne Romeu, ficou-se sabendo que Beto havia sido preso em São Paulo nesta mesma ocasião e conduzido, posteriormente, a um centro
clandestino de tortura da repressão, situado no interior do Estado do Rio, onde permaneceu por um período de 100 dias. Inês ouviu dos seus torturadores que
Beto fora preso, torturado e assassinado a tiros de revólver naquele local, identificado depois como a "Casa da Morte" em Petrópolis/RJ.
Vários outros presos políticos denunciaram a prisão, tortura e morte de Carlos Alberto Soares de Freitas.
O psicanalista Amílcar Lobo reconheceu, através de fotos, 10 pessoas que haviam sido torturadas no Quartel da PE, durante o período em que lá serviu (1970 a
1974), entreeles Carlos Alberto Soares de Freitas.
, impetrado junto ao STM, tomou o número 30.405, com entrada no dia 12 de março de 1971 (menos de um mês após a prisão), atuando como
ZULEIKA ANGEL JONES
Nasceu em Curvelo, MG, em 5 de junho de 1923, filha de Pedro Netto e Francisca Gomes Netto. Mais tarde sua família se mudou para Belo Horizonte, onde fez o
curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio Branco e o ginasial no Colégio Sagrado Coração de Jesus.

Ousada, criativa, inovadora, anti-militarista, talentosa, corajosa, envolvente, charmosa e alegre. É essa a definição da personalidade da estilista Zuzu Angel.
Começou sua carreira como costureira e, mais tarde, tornou-se “designer”,transformando panos de colchão, fitas de gorgurão, rendas do norte, pedras preciosas,
estampados de pássaros e papagaios, babados e zuartes em saias, chales e vestidos maravilhosos, criando uma moda brasileira capaz de encantar o mundo

O anjo era a logomarca de sua confecção. Seu princípio era a liberdade. Criava uma moda autêntica - a partir de suas raízes e origens de sua vida e emoções. A natureza brasileira estava presente em suas roupas, através das flores, pássaros e borboletas.
Morta aos 49 anos de idade, em 14 de abril de 1976, às 3:00 horas, na Estrada da Gávea, à saída do Túnel Dois Irmãos (RJ).
Figurinista conhecida internacionalmente como Zuzu Angel, era mãe do militante Stuart Angel Jones, desaparecido político, preso em 14 de maio de 1971 pelos agentes do CISA, onde foi torturado e assassinado.
O preso político Alex Polari de Alverga, escreveu da prisão – logo após a morte de Stuart– carta a Zuzu Angel, onde narrava as torturas sofridas por seu filho. Alex presenciou Stuart ser arrastado por um jipe pelo pátio interno da Base Aérea do Galeão, com a boca no cano de descarga do veículo. Também ouviu os gritos de Stuart – numa cela ao lado – pedindo água e dizendo que ia morrer e, pouco depois, seu corpo foi retirado da cela. Este depoimento de Alex consta do vídeo “Sônia Morta e Viva”, produzido e dirigido por Sérgio Waisman, em 1985.
Zuzu Angel incansavelmente denunciou as torturas, morte e ocultação do cadáver de Stuart, tanto no Brasil como no exterior. Em vários de seus desfiles no exterior denunciou a morte do filho para a imprensa estrangeira e a deputados norte-americanos, entregando em mãos uma carta a Henry Kissinger, na época Secretário de Estado do Governo norteamericano, visto que seu filho também tinha a cidadania americana.Sua atitude e a abrangência das denuncias, apesar da férrea censura, desnudavam o que a ditadura tentava esconder, os desaparecidos. 
Zuzu passou, então a fazer - como ela mesma classificaria - “a primeira coleção de moda política da história”, usando estampas com silhuetas bélicas, pássaros engaiolados e balas de canhão disparadas contra anjos. O anjo tornou-se o símbolo de Tuti, o filho desaparecido - caracterizando suas coleções de moda: anjos amordaçados, meninos aprisionados, sol atrás das grades, jeeps e quépis.
Durante cinco anos, buscou reaver o corpo de Stuart, cuja morte e prisão jamais foram admitidos pelos órgãos de segurança. O atrevimento, a criatividade, a audácia e até mesmo o bom humor foram as armas que ela usou contra a ditadura.
Soube tirar proveito de sua fama, para envolver, a favor da sua causa, inúmeros clientes e amigos importantes: Joan Crawford, Kim Novak, Veruska, Liza Minelli, Jean Shrimpton, Margot Fontein, Henry Kissinger, Ted Kennedy, entre outros.
Dizia sempre: “Eu não tenho coragem, coragem tinha meu filho. Eu tenho legitimidade”.
O acidente de automóvel em que veio a morrer foi bastante estranho, não ficando claro até hoje as circunstâncias dessa tragédia. Há testemunhas que afirmam que havia um jipe do Exército, logo após o acidente, na saída do túnel Dois Irmãos.
Ela própria denunciou seu fim: ”Se eu aparecer morta, por acidente ou outro meio, terá sido obra dos assassinos do meu amado filho”.
Seu óbito, de n° 384, foi firmado pelo Dr. Higino de Carvalho Hércules, que confirma a versão policial de morte em acidente.
Uma semana antes do acidente que a vitimou fatalmente, Zuzu deixara na casa de Chico Buarque, um documento que deveria ser publicado caso algo lhe acontecesse.
Sua postura diante da vida, sua força e sua garra, inspiraram Chico Buarque que compôs a música “Angélica”, onde ele pergunta, quem é essa mulher?
Zuzu Angel foi sepultada pela família, em 15 de abril de 1976, no Cemitério São João Batista, Rio de Janeiro.

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quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

História de JOSÉ RAIMUNDO DA COSTA -XXX- - Vanderley-Revista

J
OSÉ RAIMUNDO DA COSTA
Dirigente da VANGUARDA POPULAR REVOLUCIONÁRIA (VPR).
Ex-sargento da Marinha, participou junto com Carlos Lamarca e outros da Guerrilha no Vale do Ribeira (SP).
José Raimundo era perseguido, não só por ser dirigente da VPR, como também por sua participação no movimento dos marinheiros em 1964.
Morto aos 32 anos de idade, no Rio de Janeiro, em 05 de agosto de 1971, após ter sido preso e torturado no DOI-CODI/RJ.
Respondeu a alguns processos e estava com prisão preventiva decretada pela 2ª Auditoria da 2ª Região Militar.
Seu corpo foi encontrado em terreno baldio na Rua Otacílio Nunes, em frente ao n° 80, no Bairro de Pilares (RJ). Preso em São Paulo e trazido para o Rio de
Janeiro e, embora estivesse usando o nome de Odwaldo Clóvis da Silva, o CIE informou ao DOPS/RJ que se tratava de José Raimundo da Costa. Em
documento do arquivo do DOPS/RJ, o Comissário Jayme Nascimento, do citado órgão informou que às “7:00 horas pelo telefone, o Cel. Sotero, Oficial de
Permanência do CIE, comunicou que, em uma travessa próxima à Rua Otacílio Nunes, em Pilares, havia sido morto um elemento subversivo de nome José
Raimundo da Costa, quando reagiu à prisão numa diligência efetuada por elementos pertencentes ao Serviço de Segurança do Exército.”
Inês Etienne Romeu, em seu Relatório sobre sua prisão na “Casa da Morte”, em Petrópolis, afirma que, em 04 de agosto de 1971, ouviu o torturadorLaurindo
informar aos torturadores, Dr. Bruno e Dr. César, que José Raimundo havia sido preso numa barreira.
Posteriormente, outro torturador, Dr. Pepe, lhe disse que José Raimundo foi morto vinte e quatro horas após sua prisão, num “teatrinho” montado numa rua do
Rio de Janeiro.
O corpo de José Raimundo entrou no IML/RJ no mesmo dia de sua morte, pela Guia n° 59, da 24ª D.P., com o nome de Odwaldo Clóvis da Silva, sendo
necropsiado pelos Drs. Hygino de Carvalho Hércules e Ivan Nogueira Bastos, que confirmam a falsa versão oficial da repressão de que foi morto em tiroteio.
Foram, ainda, encontrados laudo (Ocorrência n° 596/71) e fotos de perícia do local (ICE n° 3.916/71).
Apesar de ser identificado, José Raimundo foi enterrado como indigente no Cemitério de Ricardo Albuquerque (RJ), em 09 de setembro de 1971, na cova
23.538, quadra 16. No livro de saída de indigentes do IML, ao lado de seu nome, está manuscrita a palavra: “Subversivo”.
Em 01 de outubro de 1979 seus restos mortais foram transferidos para um ossário geral e, em 1980/1981, foram levados para a vala clandestina.
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+ detalhes.
JOSÉ RAIMUNDO DA COSTA (1939-1971)
 
Filiação:
Maria Aleixo dos Santos e Manoel Raimundo da Costa
Data e local de nascimento:
28/12/1939, Recife (PE)
Organização política ou atividade:
VPR
Data e local da morte:
05/08/1971, Rio de Janeiro
às 7h - pelo telefone, o coronel Sotero, Oficial de Permanência do C.I.E, comunicou que, em”.
que confirmaram a versão oficial de morte em tiroteio. Em laudo do Instituto Carlos Éboli , os peritos registram: “os pulsos da vítima”. Na foto de seu corpo, a olho nu, se pode perceber a marca evidente das algemas queconsiderando-se como provas o depoimento de Inês Etienne Romeu, as evidentes”.O ano em que meus pais saíram de férias, de Cao Hamburguer, evoca lembranças do
apresentavam hematomas em toda a sua extensão
prendiam os pulsos de José Raimundo.
José Raimundo foi uma das vítimas do agente infiltrado José Anselmo dos Santos, o cabo Anselmo. Esse fato foi comprovado por documento
localizado no arquivo do DOPS/SP, onde Anselmo menciona seus encontros com José Raimundo e registra as possibilidades de contatos
com ele. Inês Etienne Romeu, no relatório que escreveu sobre o período em que esteve seqüestrada no sítio clandestino de Petrópolis (RJ),
afirma que, em 04/08/1971, ouviu o carcereiro “Laurindo” informar aos agentes policiais “Bruno” e “César” que José Raimundo havia sido
preso numa barreira. Posteriormente, outro carcereiro, “Dr. Pepe”, lhe disse que José Raimundo foi morto 24 horas após sua prisão, numa
encenação montada em uma rua do Rio de Janeiro.
O relatório para votação final na CEMDP observou que, “
marcas de algemas nos pulsos, as contradições entre os documentos do Instituto Carlos Éboli /RJ e do DOPS, o laudo com nome falso e o enterro
como indigente e, acima de tudo, o controle a que estava submetido José Raimundo nos contatos com o agente infiltrado José Anselmo
e a necessidade extrema de eliminá-lo para poder dirigir a VPR, fica evidenciado que a versão oficial de tiroteio divulgada pelos órgãos de
repressão serviu para encobrir o assassinato sob torturas de José Raimundo da Costa
Lançado em 2006 e várias vezes premiado, o filme
diretor em sua infância, quando seus pais, Amélia e Ernest Hamburguer, professores de Física na USP, foram presos em São Paulo como
integrantes de um grupo de arquitetos, artistas e intelectuais (entre eles Lina Bo Bardi, Augusto Boal, Flávio Império, Sérgio Ferro e outros)
que seriam presos ou perseguidos por ajudarem militantes da VPR e da ALN. A principal acusação contra os pais do cineasta foi, exatamente,
ter abrigado em sua residência José Raimundo da Costa e sua esposa, em 1970.
O ex-sargento da Marinha José Raimundo da Costa era casado com Gisélia Morais da Costa e tinha dois filhos. Importante dirigente da Vem 1970 e 1971, conhecido como “Moisés”,
participou, segundo informações dos órgãos de segurança, de várias ações armadas, inclusive
do seqüestro do cônsul japonês em São Paulo. Foi morto no Rio de Janeiro, em 05/08/1971, após ter sido preso pelo DOI-CODI/RJ.
Apesar de os organismos de segurança terem conhecimento pleno sobre sua verdadeira identidade, José Raimundo foi enterrado sob identidade
falsa no Cemitério de Ricardo Albuquerque. No livro de saída de indigentes do IML, ao lado de seu nome, está manuscrita a palavra
“subversivo”. Em 01/10/1979, seus restos mortais foram transferidos para um ossuário geral e, entre 1980 e 1981, foram levados para uma
vala clandestina.
A versão oficial dos órgãos de segurança sobre a morte de José Raimundo é de que ele reagiu à prisão e foi morto por elementos da Inteligência do
Exército, no dia 05/08/1971, em uma travessa próxima à rua Otacílio Nunes, no bairro carioca de Pilares. Em documento localizado no DOPS/RJ, de
05/08/71, o comissário Jayme Nascimento registra que “
uma travessa próxima à rua Octacilio Nunes, em Pilares, havia sido morto um elemento subversivo de nome José Raimundo da Costa, quando reagiu
à prisão numa diligência efetuada por elementos pertencentes ao Serviço de Segurança do Ministério do Exército
Entretanto, na mesma data, seu corpo deu entrada no IML/RJ, com o nome de Odwaldo Clóvis da Silva. Ou seja, apesar de já identificado
como José Raimundo, sua necropsia foi lavrada com falsa identidade pelos legistas Hygino de Carvalho Hércules e Ivan Nogueira Bastos,



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MÁRCIO BECK MACHADO - Vanderley-Revista


MÁRCIO BECK MACHADO
Militante do MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO POPULAR (MOLIPO).
Nasceu em 14 de dezembro de 1945, em São Paulo. Filho de Otávio Meneses Machado e Edna Beck Machado. Estudante de Economia da Universidade
Mackenzie, em São Paulo.
Foi preso no XXX Congresso da UNE, em 1968 e, em 1° de abril de 1970, teve sua prisão preventiva decretada. Foi indiciado, também, nos Inquéritos
Policiais de números 7/72 e 9/72.
Em 23/10/72, teve sua prisão preventiva decretada pela 2ª Auditoria Militar, referente a um outro processo de n° 100/72.
Foi morto em combate, em maio de 1973, em um sítio entre as cidades de Rio Verde e Jataí, em Goiás, juntamente com Maria Augusta Thomaz, também
desaparecida.
Os agentes do DOI/CODI-SP comentaram abertamente com os presos políticos que se encontravam naquele órgão policial que Márcio e Maria Augusta haviam
sido mortos, apesar de jamais terem admitido tal fato oficialmente.
Conforme depoimentos colhidos por jornalistas, em 1980, o casal se encontrava na Fazenda Rio Doce, em Rio Verde, cerca de 240 quilômetros de Goiânia, por
ocasião do assassinato. O fazendeiro Sebastião Cabral e seu empregado foram encarregados de enterrar os corpos de Márcio e Maria Augusta, esfacelados
pelos tiros. Os policiais lhe recomendaram que o sepulamento fosse feito a “pelo menos 200 metros do asfalto”. Três homens foram à fazenda e exumaram seus
restos mortais, ao saber das investigações sobre o caso, que iniciaram-se em 1980, deixando em covas abertas alguns dentes e pequenos ossos.
No Boletim Informativo do Ministério do Exército de janeiro de 76, os nomes de Márcio Beck e Maria Augusta foram retirados da lista de procurados por
serem considerados mortos.
Em documento dos órgãos de repressão encaminhado ao Delegado Romeu Tuma, Diretor do Dops em 1978, foram assumidas as mortes de Beck e Maria
Augusta.
Mesmo assim, as autoridades policiais jamais informaram aos familiares a respeito dessas mortes.
O Relatório do Ministério do Exército diz que “teria sido morto em tiroteio juntamente com Maria Augusta Thomaz, numa fazenda em Rio Verde/GO, no dia
17/5/73.” O Relatório do Ministério da Marinha afirma que, “em maio/73, foi morto em Goiás, em tiroteio, durante ação de segurança.”

História de Maria Augusta Thomaz - Vanderley-Revista

Militante do MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO POPULAR (MOLIPO).

Nascida a 14 de novembro de 1947, em Leme, Estado de São Paulo, filha de Aniz Thomaz e Olga Michael Thomaz. Foi morta aos 26 anos de idade, juntamente com Márcio Beck Machado.

Estudante do Instituto Sedes Sapientae da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, foi indiciada no Inquérito Policial 15/68 por sua participação no XXX Congresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo, em 1968.

Em 14 de janeiro de 1970 teve mandado de prisão expedido pela 2ª Auditoria da 2ª RM.

Em 29 de setembro de 1972 foi condenada no Proc. 06/70, à revelia, à pena de 17 anos de prisão, e no proc. 100/72, à revelia, à pena de 5 anos de reclusão pela 2ª Auditoria da 2ª CJM.

Em 27 de agosto de 1976, depois de três anos de seu assassinato, foi absolvida pelo STM por falta de provas concretas em outro processo.

O Relatório do Ministério do Exército diz que “consta, segundo noticiário da imprensa, que teria sido morta em 17/5/73, durante confronto com as forças de segurança no interior da Fazenda “Rio Doce” em Rio Verde/GO, juntamente com Márcio Beck Machado... Segundo reportagens veiculadas pela imprensa, os proprietários da Fazenda enterraram os corpos no local em que foram mortos, por solicitação dos agentes que executaram a missão. Ainda, de acordo com o proprietário em 31/07/80, três elementos, dizendo-se do DPF, retiraram os restos mortais do local.”

O Relatório do Ministério da Marinha, na mesma época diz que em “maio de 73 foi morta em Goiás em tiroteio, durante ação de segurança.”
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+
M
ARIA AUGUSTA THOMAZ
Militante do MOVIMENTO DE LIBERTAÇÃO POPULAR (MOLIPO).
Nascida a 14 de novembro de 1947, em Leme, Estado de São Paulo, filha de Aniz Thomaz e Olga Michael Thomaz. Foi morta aos 26 anos de idade,
juntamente com Márcio Beck Machado.
Estudante do Instituto Sedes Sapientae da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, foi indiciada no Inquérito Policial 15/68 por sua participação no XXX
Congresso da UNE, em Ibiúna, São Paulo, em 1968.
Em 14 de janeiro de 1970 teve mandado de prisão expedido pela 2ª Auditoria da 2ª RM.
Em 29 de setembro de 1972 foi condenada no Proc. 06/70, à revelia, à pena de 17 anos de prisão, e no proc. 100/72, à revelia, à pena de 5 anos de reclusão
pela 2ª Auditoria da 2ª CJM.
Em 27 de agosto de 1976, depois de três anos de seu assassinato, foi absolvida pelo STM por falta de provas concretas em outro processo.
O Relatório do Ministério do Exército diz que “consta, segundo noticiário da imprensa, que teria sido morta em 17/5/73, durante confronto com as forças de
segurança no interior da Fazenda “Rio Doce” em Rio Verde/GO, juntamente com Márcio Beck Machado... Segundo reportagens veiculadas pela imprensa, os
proprietários da Fazenda enterraram os corpos no local em que foram mortos, por solicitação dos agentes que executaram a missão. Ainda, de acordo com o
proprietário em 31/07/80, três elementos, dizendo-se do DPF, retiraram os restos mortais do local.”
O Relatório do Ministério da Marinha, na mesma época diz que em “maio de 73 foi morta em Goiás em tiroteio, durante ação de segurança.”
Mais informações ver a nota sobre Márcio Beck Machado.

IEDA SANTOS DELGADO . -XXXI- - Vanderley-Revista

IEDA SANTOS DELGADO (1945 – 1974)
Filiação: Eunice Santos Delgado e Odorico Arthur Delgado
Data e local de nascimento:
09/07/1945, Rio de Janeiro (RJ)
Organização política ou atividade:
ALN
Data e local do desaparecimento:
11/04/1974, São Paulo (SP)
ALN, conseguiu manter a vida em completa legalidade até ser presa em São Paulo, em 11/04/1974, quando desapareceu. Seu nome consta
na lista de desaparecidos políticos anexa à Lei nº 9.140/95.
Carioca e afro-descendente, Ieda era advogada e funcionária do Ministério de Minas e Energia há cerca de quatro anos. Embora militante da
estudantis que marcaram o período. Formou-se advogada em 1969 e falava francês, italiano, inglês e espanhol. Como funcionária
do Ministério de Minas e Energia, fez curso de especialização na PUC do Rio de Janeiro, de setembro de 1971 a março de 1972. No mesmo
ano, fez também outros cursos na Faculdade Cândido Mendes.
Tinha trabalhado como assistente da assessoria jurídica do Ministério da Educação e Cultura, no Plano Nacional de Educação, de 1967 a
1970. Foi estagiária e, depois, assistente jurídica do Departamento Nacional de Produção Mineral do Ministério de Minas e Energia e, em
1973, foi secretária jurídica do Centro de Pesquisas Experimentais. Ao ser presa, aguardava sua transferência para Brasília. Durante algum
tempo, trabalhou também no suplemento literário do jornal Tribuna da Imprensa.
Ieda viajou para São Paulo durante os feriados da Semana Santa de 1974, no dia 11 de abril, para buscar passaportes para um casal de
militantes da ALN que precisava deixar o país. Não retornou ao Rio de Janeiro. Por telefonema anônimo, sua família soube que ela tinha
sido presa em São Paulo.
Sua mãe, Eunice, imediatamente viajou para São Paulo e iniciou uma busca desesperada pelo paradeiro da filha. Chegou a obter a informação,
através de um general seu amigo, de que Ieda estivera presa em Campinas (SP), tendo sido hospitalizada em função das torturas, e
também em Piquete (SP), onde permanecera por pouco tempo. Tais informações, oficiosas, nunca foram confirmadas.
Os diversos
deixou ainda mais aflita. Inicialmente, em cinco linhas, em carta postada em Belo Horizonte, Ieda dizia para que a família não se preocupasse,
que estava bem. Um mês depois outra carta, nos mesmos termos, postada do Uruguai. Nessa última, sua letra estava muito tremida.
Eunice fez exames grafológicos e constatou que a letra era de Ieda.
Nesse período do regime militar em que o desaparecimento se tornou regra sistemática nos órgãos de segurança, repetiram-se várias vezes
episódios como esse em que, além do violento trauma trazido pelo desaparecimento, os familiares passaram a ser submetidos a verdadeiras
operações de contra-informação e, muitas vezes, foram alvo de chantagem para obtenção de dinheiro em troca de informações que, em
nenhum dos casos, se comprovaram verdadeiras.
Ieda Santos Delgado foi homenageada, tanto em São Paulo quanto no Rio de Janeiro, com a denominação de ruas em bairros da periferia.
Sua atuação política teve início entre 1967 e 1968, em Brasília, quando estudava Direito na UnB e participava discretamente das mobilizaçõeshabeas-corpus impetrados foram negados.Um mês depois da prisão da filha, Eunice passou a receber cartas de Ieda, o que a

LÍGIA MARIA SALGADO NÓBREGA -XXII - Vanderley-Revista

DADOS PESSOAIS

Nasceu em 30 de julho de 1947 em Natal, Rio Grande do Norte. Filha de Georgino Nóbrega e Naly Ruth Salgado Nóbrega, foi a terceira numa família de seis irmãos.

ATIVIDADES

Ainda pequena, Lígia mudou-se para a cidade de São Paulo onde estudou, terminando o curso de Normalista no Colégio Estadual Fernão Dias Paes. Em 1967, entrou no curso de Pedagogia da Universidade de São Paulo (USP) e se destacou pela sua capacidade intelectual, pela liderança e empenho em abrir horizontes, modernizar métodos de ensino, implicar as pessoas em sua responsabilidade social em uma vida dígna, onde os direitos humanos fossem respeitados e o indivíduo fosse um verdadeiro cidadão. Após a edição do Ato Institucional no. 5, com os canais de participação aberta e legal fechados pela ditadura militar. Em 1970, Lígia se engaja na Vanguarda Armada Revolucionária Palmares (VAR-PALMARES) e com outros companheiros, passa à luta armada para enfrentar a violência do regime autoritário vigente no país à época.

CIRCUNSTÂNCIAS DA MORTE

Foi metralhada em 29 de março de 1972, quando a casa em que se encontrava no bairro de Quintino, Rio de Janeiro, foi invadida por agentes do DOI-CODI do I Exército. Com Lígia, foram mortos seus companheiros: Antonio Marco Pinto de Oliveira e Maria Regina Lobo Leite Figueiredo. Seu corpo foi reconhecido por seu irmão Francisco Salgado da Nóbrega, em 07 de abril de 1972, tendo sido sepultada em cemitério de São Paulo.
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M
ARIA REGINA LOBO LEITE FIGUEIREDO
M
(VAR-PALMARES).
ILITANTE DA VANGUARDA ARMADA REVOLUCIONÁRIA PALMARES
Ex-integrante da Juventude Universitária Católica, era formada em Filosofia pela
Faculdade Nacional de Filosofia da Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Pedagoga,
foi morta aos 33 anos. Casada com Raimundo Gonçalves Figueiredo, morto em 28 de abril
de 1971, deixou duas filhas menores.
Maria Regina foi ferida quando a casa em que se encontrava foi invadida por agentes
do DOI/CODI-RJ no dia 29 de março de 1972. Lígia Maria Salgado Nóbrega e Maria
Regina, juntamente com Antônio Marcos Pinto de Oliveira, foram presos e assassinados.
O corpo de Maria Regina chegou ao IML pelaGuia n° 02 do DOPS, como
desconhecida, vindo da Av. Suburbana, n° 8988, casa 72, Bairro de Quintino (RJ), como
tendo sido morta em tiroteio. Entretanto, há testemunhas que dizem que, após ser baleada,
foi levada para o DOI-CODI, onde veio a morrer horas depois, tendo inclusive sido levada
para o Hospital Central do Exército.
Sua necrópsia, feita em 30 de março de 1972, pelos Drs. Eduardo Bruno e Valdecir
Tagliari confirma a versão oficial. Foi identificada nesse mesmo dia 30, através de ficha do
Instituto Félix Pacheco/RJ.
Maria Regina foi reconhecida por suas irmãs Maria Eulália, Maria Alice e Maria
Augusta, em 07 de abril de 1972, e sepultada no dia seguinte no Cemitério São João
Batista.
Fotos e laudo de perícia de local (n° 1884/72 e Ocorrência n° 264/72) feitas pelo
Instituto de Criminalística Carlos Éboli/RJ, mostram o corpo de Maria Regina baleado.
O jornal
morte, sob o título
de sua foto, o nome de Ranúsia Alves Rodrigues. No entanto, Maria Regina já havia sido
identificada no IML/RJ.
“Correio da Manhã”, de 06 de abril de 1972, publicou a notícia de sua“Terroristas Morrem em Tiroteio: Quntino”e capciosamente dá, ao lado

História de SANTO DIAS DA SILVA -XXVI- - Vanderley-Revista

S
ANTO DIAS DA SILVA
Nasceu em 22 de fevereiro de 1942, em São Paulo, filho de Jesus Dias da Silva e Laura Amâncio.
Operário metalúrgico, era motorista de empilhadeira da Metal Leve S/A. Antes havia sido lavrador, colono, diarista e bóia-fria. Em 1961, foi expulso, com a
família, das terras onde era colono, por exigir registro de carteira profissional, como era lei. Trabalhador em fábrica, foi demitido por participar de campanhas
coletivas por aumento de salário e adicional de horas extras.
Líder operário bastante reconhecido no meio dos trabalhadores,era casado e pai de dois filhos.
Após sua covarde morte, como homenagem de sua luta e seu exemplo, foi criado o
Santo era membro da pastoral operária de São Paulo, representante leigo ante a Confederação Nacional dos Bispos do Brasil, CNBB, membro do Movimento
Contra a Carestia, candidato a Vice-presidente da chapa 3, da Oposição no Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e integrante do Comitê Brasileiro pela
Anistia - CBA/SP.
Assassinado friamente pela PM paulista quando comandava um piquete de greve no dia 30 de outubro de 1979, em frente à fabrica Silvânia, em Santo Amaro,
bairro da região sul.
Centro Santo Dias de Direitos Humanos da Arquidiocese de São Paulo.
Relato da morte de Santo Dias, publicado no Boletim do Sindicato dos
Metalúrgicos de São Paulo, encontrado no Arquivo do DOPS/SP:
“ Os policiais estavam puxando o Espanhol por um lado. Do outro, Santo segurava o companheiro. Começou então a violência, com tiros para cima e,
depois, eu vi o Santo ser atingido na barriga, de lado, e o tiro sair de outro lado. Escutei três gritos: ai, ai, ai. E o Santo caiu no chão.
O metalúrgico Luís Carlos Ferreira relatou assim a morte de Santo Dias da Silva, no depoimento que prestou à Comissão de Justiça e Paz, que
também ouviu mais duas outras testemunhas sobre a morte do companheiro. Segundo Luís Carlos afirmou à Comissão, ele estava a uns seis metros de
distância de Santo Dias, no momento em que ele foi baleado.
Os policiais continuaram a perseguir outros - prossegue Luís Carlos no seu depoimento. ‘Eu fiquei atrás de um poste e posso, com toda segurança,
reconhecer o policial que atirou no Santo: tem cerca de um metro e oitenta, alto, forte e aloirado.
E pude ver, depois, na delegacia que ele tem uma falha na arcada dentária. Vi ele bem, quando eu estava sendo levado preso no Tático Móvel 209.
Luís Carlos lembra que havia cerca de 50 operários no piquete, que nunca usou de violência, pois só fazíamos o trabalho de conscientização. Ele
também desmente a versão de que os trabalhadores teriam iniciado o conflito, afirmando que quando chegamos na porta da Sylvânia, tinha uns
quatro ou cinco policiais guardando o local. Não houve nenhum atrito com eles e nenhum de nós estava armado.
Luís Carlos Ferreira reconheceu o soldado Herculano Leonel como o autor do disparo que matou o operário.
Correndo, assustados e ao mesmo tempo com raiva do ocorrido, os companheiros entraram na sede com a notícia parada na garganta: ‘Mataram o
Santo’. Num primeiro momento, a dúvida e, após a confirmação, a dor. A repressão diante da Sylvânia, local para o qual Santo se dirigira com a
finalidade de acalmar os ânimos, dissolveu a tiros o piquete; fez um ferido (João Pereira dos Santos) e um morto, Santo Dias da Silva. A triste notícia
correu de boca em boca. As autoridades procuravam esvaziar e eximir-se da culpa.
Imediatamente começou a mobilização dos trabalhadores para protestar contra o assassinato. A polícia não queria nem mesmo liberar o corpo. Depois
da interferência de outros sindicalistas e parlamentares, o corpo de Santo chegou à Igreja da Consolação onde foi velado pelo povo de São Paulo. A
tristeza se misturava com a incredulidade e a raiva contra os assassinos. Milhares de pessoas desfilaram diante do caixão aberto de Santo, prestando
sua homenagem ao novo mártir da luta operária, que estampava no seu rosto um leve sorriso de tranquilidade.
Já na madrugada, o povo continuava a rezar por Santo e a se preparar para a grande marcha até a Sé, local fixado para a cerimônia de
encomendação do corpo.
Às 8:00h da manhã a movimentação diante da Consolação era grande: metalúrgicos, estudantes, todos querendo levar Santo. Saindo da Consolação
às 14:10h, o cortejo com faixas e palavras de ordem contava com mais de 10 mil pessoas. Dos prédios caiam papeis picados, um sinal silencioso de
solideariedade.
Novos manifestantes se acresciam ao cortejo e as palavras de ordem se sucediam: ‘A Luta Continua’, ‘A polícia dos patrões matou um operário’,
‘Você está presente, companheiro Santo’...”



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História de MÁRIO ALVES DE SOUZA VIEIRA / e texto de MMM "DESCOBRINDO MÁRIO ALVES" -XXIV- - Vanderley-Revista

M
ÁRIO ALVES DE SOUZA VIEIRA
Secretário-Geral do PARTIDO COMUNISTA BRASILEIRO REVOLUCIONÁRIO
(PCBR).
Nasceu em 14 de fevereiro de 1923 em Santa Sé, Estado da Bahia, filho de Romualdo Leal Vieira e Julieta Alves de Sousa Vieira.Desaparecido aos 47 anos, no
Rio de Janeiro.Jornalista, tendo dirigido os jornais
Estudantes da Bahia.habeas-corpus.
Por sua oposição à orientação predominante na direção do PCB, Mário Alves foi afastado da Comissão Executiva e deslocado para atuar em Belo Horizonte,
onde permaneceu até 1967.
Já, em 20 de maio de 1966, um ato do Presidente Castelo Branco cassa seus direitos políticos por 10 anos. Em 6 de junho do mesmo ano, foi julgado à revelia
no chamado processo das “Cadernetas de Prestes” e condenado a 7 anos de prisão, pela 2ª Auditoria Militar de São Paulo.
A luta interna no PCB também se acirrava e, no VI Congresso, realizado em 1967, Mário Alves, juntamente com Carlos Marighella, Joaquim Câmara Ferreira,
Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho, Manuel Jover Telles e Miguel Batista dos Santos foram expulsos.
Em 1968, junto com Jacob Gorender, Apolônio de Carvalho e outros, Mário Alves fundou o PCBR (Partido Comunista Brasileiro Revolucionário), continuando
a militar clandestinamente.
Em 16 de janeiro de 1970, entre 19:30 e 20:00 horas, saiu de casa para voltar dentro de pouco tempo. Foi preso pelo DOI/CODI-RJ, para onde foi levado. Na
madrugada do mesmo dia, Mário Alves morreu sob torturas.
Mário foi visto sangrando, abundantemente, na sala de tortura, por vários presos políticos que se encontravam no DOI/CODI, dentre os quais, René Carvalho,
Antônio Carlos de Carvalho e o advogado Raimundo Teixeira Mendes .
Os soldados que serviam no PIC (Pelotão de lnvestigações Criminais), onde está situado o DOI-CODI, foram retirados do local, para que o corpo de Mário
pudesse ser removido sem testemunhas.
Apesar das evidências, os órgãos de segurança negam a prisão de Mário.
Em 01 de dezembro de 1987 foi julgada a apelação civil n° 75.601 (RJ), registro 2678420, onde sua mulher e filha conseguiram da União a responsabilidade
civil por sua prisão, morte e danos morais. Foi o 1° caso de desaparecido político em que a União reconheceu sua responsabilidade.
Foram advogadas as Dras. Francisca Abigail Barreto Paranhos e Ana Maria Müller.
O Relatório do Ministério do Exército diz que “foi condenado em 06/06/66 a 7 anos de reclusão e em 17/11/73, a três anos, ambos a revelia.”
Dilma, companheira de Mário Alves, enviou uma carta à esposa do cônsul brasileiro, seqüestrado no Uruguai. Destacamos aqui alguns trechos:
“Todos conhecem seu sofrimento, sua angústia. A imprensa falada e escrita focaliza diariamente o seu drama. Mas do meu sofrimento, da minha
angústia, ninguém fala. Choro sozinha. Não tenho os seus recursos para me fazer ouvir, para dizer também que “tenho o coração partido”, que quero
 meu marido de volta. O seu marido está vivo, bem tratado, vai voltar. O meu foi trucidado, morto sob tortura, pelo 1° Exército, foi executado sem
 processo, sem julgamento. Reclamo seu corpo.
Nem a Comissão de Direitos da Pessoa Humana me atendeu. Não sei o que fizeram dele, onde o jogaram.
Ele era Mário Alves de Souza Vieira, jornalista. Foi preso no dia 16 de janeiro do corrente, na Guanabara, pela polícia do 1° Exército e levado para o
quartel da P.E., sendo espancado barbaramente de noite, empalado com um cassetete dentado, o corpo todo esfolado por escova de arame, por se
recusar a prestar informações exigidas pelos torturadores do 1° Exército e do DOPS. Alguns presos, levados à sala de torturas para limpar o chão
sujo de sangue e de fezes, viram meu marido moribundo, sangrando pela boca e pelo nariz, nu, jogado no chão, arquejante, pedindo água, e os
militares torturadores em volta, rindo, não permitindo que lhe fosse prestado nenhum socorro.
Sei que a sra. não tem condições de avaliar meu sofrimento, porque a dor de cada um é sempre maior que a dos outros. Mas espero que compreenda
que as condições que levaram meu marido a ser torturado até a morte e o seu seqüestrado são as mesmas; que é importante saber que a violência-
fome, violência-miséria, violência-opressão, violência-atraso, violência-terrorismo, violência-guerrilha; que  é muito importante saber quem pratica a
violência - os que criam a miséria ou os que lutam contra ela”.
Do livro “Desaparecidos Políticos”:
“– Não dormíamos, acompanhando os interrogatórios e sofrendo cada uma das torturas que sabíamos estarem sendo aplicadas - e que cada um de
nós conhecia de perto - na cela ao lado. Não demorou muito para termos certeza que a vítima era Mário Alves...
– Diante da recusa de Mário a atender às exigências dos torturadores e das formas cada vez mais violentas de tortura a que foi submetido
(afogamentos, empalamento etc.) temi por sua vida. Alguém por ali havia dito que ele já estava com 56 anos de idade e tinha pouca saúde.
– De manhã, bem cedo, o cabo da guarda chamou Manoel João, Augusto e eu para fazer a faxina da sala ao lado. A sala estava enlameada, cheia de
água e , no chão, deitada, estava uma pessoa totalmente machucada, a pele bem ferida, cheia de hematomas... era um rosto magro com um pequeno
bigode... era Mário Alves.”
Depoimento do advogado Raimundo Teixeira Mendes, também detido na época na
P.E., do mesmo livro:
- Cerca de 20:30 horas do dia 16 de junho de 1970, sexta-feira... o DOICODI/ RJ... acabava de prender o Jornalista Mário Alves de Sousa
Vieira...conduzido para a cela que ficava ao lado...foi submetido a interrogatório, findo o qual iniciou-se a sessão de tortura que acabou às 5 horas.
- Depois de violentamente espancado... torturado com choques elétricos, no pau de arara, afogamentos, etc. Mário Alves manteve a posição de nada
responder a seus torturadores... então introduziram um cassetete de madeira com estrias, que provocou a perfuração de seus intestinos e a hemorragia
que determinou a sua morte.”
============================================================================
DESCOBRINDO MÁRIO ALVES

Marcelo Mário de Melo

Purgar os erros.
Lembrar os mortos
Fecundar os sonhos.
Festejar as vitórias.
Se não fizermos isto
pela nossa causa
quem o fará?

(MMM)

Em 1970 o esquema repressivo da ditadura militar matou sob tortura o militante político Mário Alves Vieira, baiano de nascimento, jornalista, intelectual, fundador do  Partido Comunista Brasileiro Revolucionário - PCBR e integrante do seu comitê central. Na ocasião, Mário tinha 47 anos de idade. Se estivesse vivo, comporia com Apolônio de Carvalho e Jacob Gorender  a tríade dos comunistas históricos e ex-integrantes do comitê central do PCB,  que esgotando uma luta interna anterior a 1964, partiram para viver uma nova experiência partidária.

Mário Alves resistiu às torturas, enfrentou e afrontou os seus carrascos, “sacrificando o bem-estar da carne, a vida, para manter cerrados dentes, compromissos”. Depoimentos de testemunhas oculares e auditivas revelam rasgos de elevada altivez da parte de um homem conhecido como fisicamente frágil, que carregava uma úlcera e, naquela ocasião, já tinha o corpo macerado e as palavras ecoando manchadas de sangue. Isto revela a sua estirpe  o situa numa pequena parcela de presos políticos brasileiros de todas as épocas, “queimados na face com uma luminosa cicatriz de silêncio”. Mas é insuficiente para caracterizar a sua personalidade, que não pode ser apreendida por aspectos isolados,  nem através de equação, média ou denominador comum.

Compor o perfil de Mário Alves de corpo inteiro constitui um desafio a ser enfrentado. E é  na perspectiva de juntar pedras e seguir pistas que alinho antigas impressões, recolhidas em textos seus e nos contatos tidos com ele em 68 e 69, que embora breves, foram intensos e inesquecíveis. Antes, quero ressaltar a importância da matéria escrita por Otto Filgueiras, publicada no número 20 da revista Brasil Revolucionário, ano de 1996, que trás revelações  sobre a atividade intelectual de Mário Alves, aspectos da sua vida familiar e dos seus jeitos de ser como simples mortal.

Primeiros rumores -  Militando no PCB do Recife desde 1961, a partir da base do Colégio Pernambucano, eu sabia da existência de Mário Alves como diretor do jornal oficial do partido, o Novos Rumos. De vez em quando, lia algum dos seus artigos. Seu nome  esteve muito presente nas rodas militantes,  a partir de um trabalho publicado numa revista,  em parceria com Paul Singer, criticando o Plano Trienal de Desenvolvimento de Celso Furtado, então Ministro da Economia de um dos gabinetes do governo João Goulart, no período de regime parlamentarista implantado sob  pressão militar,  depois da renúncia de Jânio Quadros, ocorrida em agosto de 1961. Em certa altura ele passou a ser  citado como integrante do chamado “grupo baiano” do comitê central do PCB, que tinha posições mais à esquerda e era composto, também, por Jacob Gorender e Carlos Marighella. Naquela época, talvez por alguma associação com o cantor Francisco Alves, que povoou as manchetes e o cinema nacional até meados da década de 50, eu sempre imaginava Mário Alves um tipo alto, forte, moreno e vivaz, de paletó e gravata.

Debates e Ditadura -     Um mês antes do golpe militar de 64, o comitê central do PCB publicou no Jornal Novos Rumos as Teses para Discussão do seu VI Congresso. Na tradição dos PCs, começaram os debates e a eleição de delegados,  a partir das assembléias de base, preparando as conferências setoriais, que partiriam para as municipais, as estaduais e, finalmente, o congresso nacional. A polarização era forte em torno de alguns aspectos. Uma ala dizia que havia a possibilidade de um caminho pacífico para a revolução brasileira, que deveria ser esgotado.  Mantinha a crença na chamada burguesia nacional como integrante da frente nacionalista e democrática e, embora com um caráter dúplice e vacilante, possuindo um potencial revolucionário. A outra ala afirmava que a tentativa de golpe militar era inevitável e deveríamos estar preparados para enfrentá-lo, que o papel dúplice e vacilante dos setores burgueses progressistas era orgânico e insuperável, e que o eixo da frente  deveria ser constituído por operários, camponeses e camadas médias. Mário Alves desenvolvia estas posições.

O golpe interrompeu o congresso e acirrou a luta interna no PCB. A primeira grande polarização se deu  em torno de qual tinha sido o erro fundamental: se os desvios de direita, caracterizados na não preparação para a resistência pelas armas, na dependência ao esquema militar de João Goulart, ou se os desvios de esquerda, expressos na “pressa pequeno-burguesa” de querer acelerar o processo político artificialmente e, com isso, permitir a ofensiva da direita e a ampliação  das suas bases de apoio. Dois a três anos depois é  retomado o VI Congresso do PCB e se abre de novo a Tribuna de Debates, agora nas páginas do jornal A Voz da Unidade, órgão oficial do comitê central. Mário Alves teve uma presença marcante nos debates, através de artigos assinados com o pseudônimo de Martim Silva. As tendências alinhadas mais à esquerda se organizaram na chamada Corrente Revolucionária do PCB, ou simplesmente Corrente, que era uma grande articulação anti-comitê central e alimentou diversas organizações de esquerda. Nasceu oficialmente, o PCBR, em abril de 1968, tendo na direção Mário Alves, Apolônio de Carvalho, Jacob Gorender, Bruno Maranhão e outros companheiros. Marigella, ex-secretário político do comitê estadual do PCB em São Paulo, partiu para fundar a ALN. Dirigentes estudantis da Dissidência do Rio formaram um grupo autônomo, que depois se integrou à POLOP e resultou no POC. Dirigentes do Rio, entre eles Jover Telles, membro do Comitê Central, um certo tempo depois de fundado o PCBR, lançaram um manifesto intitulado Um Reencontro Histórico, e se integraram ao PC do B.

Me impressionou a qualidade do texto de Mário Alves: conciso, denso, objetivo, desprovido de gorduras e retóricas. Jornalista e com tarimba de tradutor de livros em inglês, francês e russo,  Mário Alves agregou uma qualidade literária aos documentos políticos que escreveu, merecendo destaque a Resolução da Conferência Estadual de Minas, preparatória do VI Congresso do PCB, os artigos na Tribuna de Debates, a Linha Política do PCBR, o  documento Raízes Ideológicas dos Nossos Erros e o texto em que polemizou com os dirigentes do Rio que optaram pelo PC do B, intitulado: “Reencontro Histórico, ou Simples Mistificação?” Agora, um esclarecimento. O texto escrito por Mário Alves sobre o comportamento do revolucionário na prisão e no tribunal,  não é, originalmente, seu. Trata-se de uma síntese de material constante do livro do advogado, escritor e comunista francês, Marcel Willard, intitulado “A Defesa Acusa”. Marighella cita esse autor, num folheto divulgado no PCB, em que também trata de interrogatórios e torturas. Não me lembro se a primeira distribuição da síntese de Mário informava sobre a fonte do seu trabalho. Com o tempo, predominou a versão de que as normas sobre o comportamento do revolucionário na prisão e no tribunal seriam da sua autoria. Mas se não teve o mérito de concebê-las, coube a Mário Alves, que as sintetizou e difundiu, a suprema dignidade de cumpri-las integralmente, até o último suspiro.

Contato ao vivo - Meu primeiro contato com Mário Alves se deu numa viagem de emergência que fiz ao Rio, para tratar junto ao Comitê Central, como representante do Comitê Regional do Nordeste, do rateio do apurado de um assalto a banco feito pelo nosso Comando Militar. Fui levado de olhos fechados a uma reunião do Comitê Central e lá conheci Apolônio de Carvalho e Mário Alves, com quem tive depois um encontro. Sentamos num bar, conversamos e continuamos andando, até o momento em que ele pegou o seu rumo. Eu achava que as informações que chegavam ao comitê  central sobre as forças do partido e as possibilidades da ação armada  no Nordeste, principalmente no campo, eram inflacionadas. Comecei a levantar algumas ponderações quanto à necessidade de uma maior preparação. Falei das dificuldades de recrutamento em função do refluxo do momento de massas, da nossa inserção, basicamente, nos segmentos pequeno-burgueses, das deficiências estruturais do partido e da precariedade do nosso trabalho de campo, com uma estrutura de militância  de características mais típicas de um trabalho de massas do que de uma ação de partido,  com as exigências propostas. Ele não levou muito em conta as restrições, não entrou em detalhes, nem alimentou o papo, afirmando que as dificuldades eram superáveis e não se constituíam em impedimento maior. Senti uma pressa em aprofundar o processo armado a todo custo e desconfiei de um certo espírito de concorrência pesando sobre o comitê central do PCBR, em face das ações armadas desencadeadas pelos chamados agrupamentos militares.  Nesse encontro, caiu por terra a imagem física que eu fazia de Mário Alves. Estava diante de um homem alvo, magro, ombros estreitos, meio franzino e um pouco encurvado. O rosto jovem, expressivo, atento  e com linhas bem desenhadas. Mário Alves tinha cabelos pretos e lisos,  penteados pra trás, e usava uns óculos escuros modernosos,  que lhe caíam muito bem.

Reuniões no Recife - Mário Alves chegou no Recife no primeiro trimestre de 69, para reunir com o Comitê Regional do Nordeste. No primeiro dia, reunião nos dois expedientes, entrando pela noite. E aí começou a se desenhar o estilo do homem. Uma meia folha de papel-ofício, dividida ao meio, de cima a baixo, pela marca de uma dobra, foi o terreno onde ele esquematizou sua intervenção. Do lado esquerdo, no alto, um pequeno esquema do que iria dizer. Abaixo disso, foi lançando as sínteses telegráficas das falas dos circunstantes. Em paralelo, na metade direita, as suas observações sobre elas. Ele abriu a reunião, ouviu os reunintes  e, no fim, fez considerações detalhadas, com base naquele pequeno papel. Até hoje, em reuniões e debates, me valho do esquema de Mário Alves. Mas além do macete técnico, as marcas substanciais. Havia uma tendência entre assistentes e dirigentes de instâncias superiores, em inflacionar muito a realidade, dando informes exagerados e excessivamente otimistas sobre as forças do partido em termos nacionais, ou simplesmente obscurecendo os aspectos de limitação e dificuldade. Mário Alves foi uma  verdadeira ducha de água  fria nessa deformação. Secou balões ilusionistas e deixou desenhada a verdadeira realidade orgânica do PCBR em todos os estados, muito mais limitada do que se imaginava.

Quando da sua vinda, eu atravessava um certo isolamento no Comitê Regional do PCBR. Considerado “à direita”, por manter uma resistência contra o que considerava militarismo, tive cortadas as assistências aos comitês zonais mais importantes e me concentrei na montagem da imprensa partidária. Quando Mário Alves chegou, estava pronto o  primeiro exemplar do “Luta de Classe”,  jornal do Comitê Regional, que trazia como centro a análise do Ato Institucional número 5, editado em 13 de dezembro de 1968. Eram considerados os aspectos políticos e se fazia uma abordagem da conjuntura econômica. Nessa segunda parte houve a colaboração do companheiro Frederico Oliveira (Fred), militante do PCBR, advogado e técnico em desenvolvimento econômico da Sudene, que atraiu a participação dos economistas  Alcino Rufino e Abelardo Baltar, que integrava o núcleo de profissionais liberais do PCBR com o pseudônimo de Abreu. O miolo do jornal já estava aprovado e faltava o editorial, que Mário Alves leu em silêncio e, em seguida, olhou para mim, levantando o polegar. Lembro-me de que o texto começava assim: “A crise que antecedeu a edição do Ato institucional número 5 foi essencialmente política.”. No fim da reunião, Mário Alves declarou que as divergências existentes no interior da direção eram normais e não deveriam levar a desconfianças e restrições entre os companheiros, todos empenhados em levar as tarefas revolucionárias à frente.  Depois disso, desfez-se o cerco às minhas atividades e melhorou o clima  no trabalho de direção.

História & Humor - No segundo dia, a reunião durou somente o expediente da manhã e  partimos  para um almoço descontraído, que se esticou numa gostosa roda de bate papo em torno da mesa, até o anoitecer,  quando Mário Alves pegou a estrada de volta ao Rio. Foram muitas histórias, com esclarecimentos, folclore político e piadas, onde apareceu o seu lado irreverente e satírico. Ele falou em detalhe sobre as entrelinhas  do PCB em vários momentos: o   período de transição da ditadura para a anistia de 46, as reações ao informe secreto de Nikita Kruschev, em 1953,  denunciando os crimes de Stalim, as polarizações no interior do Comitê Central no período posterior ao golpe. Aspectos caricaturais e pitorescos vivenciados na sua juventude, envolvendo a figura de Otávio Brandão, fundador do PCB,  provocaram ataques de riso. Mário fez algumas gozações com Jason, o  agitado companheiro do Comitê Central,  que dava assistência ao Nordeste: “O Jason é uma demonstração viva da dialética  entre a causa e o efeito: quando ele está tenso, aperta em baixo; quando aperta em baixo, fica mais tenso em cima”. Dizia isto fazendo demonstrações dos dois apertos, com movimentos  de abre-e-fecha das duas mãos levantadas. Foi essa abertura humorística de Mário Alves - soube por Jason - que me salvou, depois, de uma medida disciplinar do Comitê Central do PCBR.

 Nos primeiros contatos em Pernambuco, Jason escreveu um documento de 10 laudas, datilografado em espaço-um, sobre as potencialidades da luta armada na área rural do Nordeste, e lhe deu o título de “Anotações para um Esboço de  Esquema”. Apolônio de Carvalho, em alguns documentos, quando se referia ao PCBR, colocava este acréscimo: “partido motor e guia”, e costumava fazer longas citações da Resolução Política aprovada no Congresso. O grupo de trabalho indicado pelo comitê central para concluir um estudo sobre o movimento estudantil, não apresentava o resultado. Mário Alves, ao fim de uma rodada de reuniões do Comitê Central, foi encarregado de escrever três documentos, sendo um deles, o “Raízes Ideológicas dos Nossos Erros”. Tudo isso eram motes para a minha produção satírica. Um dia, escrevi para  Jason uma carta intitulada  “Prefácio para um Prólogo de Bosquejo”, começando assim : “O PCBR, partido motor e guia, caixa de marcha, arranque, acelerador...” A torto e a direito, meti citações da Resolução Política.E ainda encaminhei em anexo um livreto datilografado, em forma de brochura, com uma série de  poemas satíricos inspirado nas coisas do PCBR. Hoje esses textos, com ligeiras adaptações, compõem a série dos Poemas Antiburocráticos. Na época eram, simplesmente,  os “burocras”, organizados assim:  Burocra 1, Burocra 2,  Burocra 3, etc. Jason me disse que, no intervalo de uma das reuniões do comitê central, expôs a carta e os textos, provocando a indignação de um dirigente, que falou em anarquismo intelectual e  sugeriu uma medida disciplinar. Mário Alves veio em minha defesa, tirando por menos e argumentando que a sátira também era uma forma válida de luta interna no partido. São palavras de Jason: “o Mário quase se mija de tanto rir, lendo o teu material”. Esclareço que  Jason era o nome de guerra do jornalista carioca Nicolau Tolentino de Abrantes.

A FALTA QUE FAZ - Mário Alves era um dirigente comunista que procurava manter as antenas ligadas ao que rolava culturalmente na sociedade. Traduzia em vários idiomas, possuía  estofo intelectual, um grande poder de síntese, um texto denso e  muito bem acabado. Sendo um dirigente político e um redator partidário, sua  produção intelectual, que ainda não está reunida, foi muito marcada pelas urgências, sobrecargas, tensões e dificuldades da militância clandestina. Se tivesse sobrevivido, Mário Alves  teria podido  desenvolver, nas condições pós-anistia,  uma atividade intelectual de maior fôlego, exercitando a análise política da experiência vivida e dos desafios atuais. Esta é uma   incalculável  lacuna que a sua morte nos deixou. 


POEMAS AINTIBUROCRTICOS - Os Poemas Antiburocráticos (Burocras),  na sua maioria, foram escritos entre  os anos de 1968 e 1969 e   constituem uma crítica ao burocratismo, compreendido sob dois aspectos:  a apreensão da realidade sob o filtro das quatro paredes dos pequenos círculos e a intervenção a partir das formas e das normas  ossificadas. Nas formulações e no cotidiano do PCBR e da esquerda armada, mesmo emascarado  nas capas do ativismo e das ações ousadas, fui descobrindo a essência e as nuances do burocratismo, a que dei  um tratamento satírico, com o  natural exagero das caricaturizações. A seguir, o desfile de alguns Burocras,  tal e qual foram escritos e divulgados na época, em rodas de militantes. Todos os meus textos, em poesia e  em prosa, foram apreendidos quando da prisão (e do assassinato sob tortura) de Odijas Carvalho, no aparelho da praia de Maria Farinha,  no Recife, onde eu estava morando e de cuja queda escapei,  por me encontrar numa reunião noutro estado. O grosso da parte de poesia foi reconstituído nos meus primeiros meses na Casa de Detenção do Recife, em 1971. 



                                                                                                                                                                 BUROCRA 1


O verde burocrata
ou o burocrata maduro
no seu casulo
respira o mundo
em ondas redondinhas.

O verde burocrata
ou o burocrata maduro
no seu casulo
refaz o mundo
arredondando-lhe o corte
com a sua implacável
grave e disciplinada
tesoura de decretos burocráticos.

Sucedem-se as resoluções insossas
num mar de consequências buroanêmicas.
Ou os decretos irreais pomposos
gerados em euforias de birô.

A vida irregular e borbulhante
então se organiza em prateleiras
cumprindo a cachoeira de decretos.

É quando o burocrata já cansado
de tanto recortar a vida e o vivo
encerra o expediente da tesoura
e vai dormir
ou arquivar seus sonhos.

No exato momento
em que a ditadura publica
mais um ato institucional.


                                                                                                                                                                  BUROCRA 2


A vida é simples para o burocrata.
No seu birô
com a sua caneta
o seu papel
 quorum
o verbo
e a hierarquia
 ele constrói e reconstrói o mundo
como edição pilulificada de Deus
nos sete dias
da sua majestática criação.

Algum problema?
- Resolução.

                                                                                                                                                                     Deficiência?

                                                                                                                                                             - Um curso, irmão.

                                                                                                                                                              Com morto e vivo

façam um ativo.
Para o incremento
mais um documento.

                                                                                                                                                                Para organizar

uma circular.

Ponto diário.
Mais reunião.
Mais um secretário.
Mais discussão.

Abaixo o foquismo
e o partidão!

                                                                                                                                                               BUROCRA 3


E o principal motivo
para nós sermos ateus, companheiros,
é que Deus foi um burocrata:
fez tudo por decreto
hemorroidalmente
sentado.

Por isso mesmo a sua criação
pressupôs o cão
e o seu cabedal:
o pecado
a cobra
e o Jardim do Mal.

 
                                                                                                                                                                BUROCRA 4

Raízes Ideológicas:
primeiro documento.

Caules ideológicos:
segundo documento.

Folhas ideológicas:
terceiro documento.

Flores ideológicas:
quarto documento.

Frutos ideológicos:
os foquistas tomam o poder.

Ah! Que prazer!
Mais um documento
 para escrever!


                                                                                                                                                                 BUROCRA 5


O grupo de trabalho
não está trabalhando
porque está elaborando
um plano
de trabalho.


[Publicado originalmente na Revista Brasil Revolucionário]

Participou da UNE. Ingressou no PCB e foi um dos líderes do movimento de massas de 1942 em Salvador, contra o nazi-fascismo.
Em 1945 passou a integrar o Comitê Estadual do PCB na Bahia e em 1957, foi eleito para o Comitê Central.
Com o golpe de 1964, tornou-se um dos líderes da corrente de esquerda dentro do PCB. Atuando nas difíceis condições de clandestinidade, foi preso, em julho
de 1964, no Rio de Janeiro, sendo libertado somente um ano depois por concessão de
Novos Rumos e Voz Operária. Fez o curso secundário em Salvador e foi um dos fundadores da União dos



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